Sempre quis entender quais são os tipos de cimento e quais as diferenças entre eles?!
Gostaria de entender os códigos escritos na embalagem mas nunca achou ninguém para te explicar?
UMA BREVE HISTÓRIA DO CIMENTO
O cimento mais utilizado e que mais conhecemos é o Cimento Portland (ahaaaa, daí a sigla CP em todos os sacos de cimento? Elementar, caro leitor!), e foi descoberto apenas em 1824 por um caboclo chamado Joseph Aspdin, que resolveu queimar umas pedras calcárias com argila (às vezes eu fico tentando imaginar como que as pessoas tem essas idéias)… Sim, pode ser considerada uma descoberta recente, e revolucionou a construção civil. Imaginem como seriam as obras sem o concreto armado?! O nome Portland vem de uma ilha irrelevante que tem as pedras da cor do cimento (criatividade zero).
Depois, resolveram fazer outros testes e descobriram que com a mistura de escória siderúrgica (um resíduo na fabricação de aço) e materiais pozolânicos o cimento adquiria outras propriedades interessantes.
COMPONENTES DO CIMENTO PORTLAND
Para saber como escolher o cimento da sua obra, você precisa entender do que ele é feito, veja seus componentes a seguir:
- Clínquer: O clínquer tem como matérias-primas o calcário e a argila moídos. A mistura passa por um forno e o calor transforma essa mistura em clínquer.
- Gesso: O gesso tem como função básica controlar o tempo de pega, sem ele a pega seria quase imediata.
- Adições: As adições tem como função principal reduzir o consumo de clínquer,conservando as propriedades do cimento, e consequentemente reduzir o consumo de energia em sua fabricação. Portanto, partimos do entendimento de que todos os cimentos com adições podem ser utilizados em situações comuns. As principais adições são escórias granuladas de alto-forno, materiais pozolânicos e materiais carbonáticos.
ENTENDENDO OS CÓDIGOS DO SACO DE CIMENTO
Ninguém repara na hora de preparar o concreto na betoneira, mas nas embalagens de cimento encontramos a sigla CP seguida de algarismos romanos de I a V. O CP já sabem o que significa (se não sabe, leia o artigo direito, capiroto!), já os algarismos significam o tipo de cimento.
- CP I – Cimento comum
- CP I-S – Cimento comum com adição
- CP II – Cimento composto
- CP II-E – Cimento composto com escória
- CP II-Z – Cimento composto com pozolana
- CP II-F – Cimento composto com fíler
- CP III – Cimento de alto forno
- CP IV – Cimento pozolânico
- CP V-ARI – Cimento de alta resistência inicial
Tá legal, mas o que tudo isso significa?? Vamos falar sobre as propriedades de cada tipo de cimento.
CP I – É o nosso cimento mais comunzinho, ele é o cimento “original”, sem adições.
CP II – São os cimentos compostos e apresentam características diferentes de acordo com as adições (representam cerca de 75% da produção industrial no Brasil):
- CP II-E – A adição de escória de alto forno faz com que o cimento libere menor calor na hidratação. Isso é interessante para algumas estruturas que necessitam de desprendimento de calor mais lento. Ao liberar o calor mais lentamente, reduz a probabilidade de ocorrência de fissuras e trincas no processo de cura.
- CP II-Z – A adição de materiais pozolânicos faz com que o cimento tenha menor permeabilidade, tornando-o útil para obras subterrâneas e com presença de água.
- CP II-F – A presença do fíler permite melhor trabalhabilidade, portanto é um cimento muito utilizado para preparo de argamassas, estruturas de concreto armado ou qualquer outra estrutura que não esteja em um ambiente muito agressivo, principalmente com presença de sulfatos.
CP III – O cimento de alto forno possui muito mais escória do que seu irmão mais simples, o CP II-E. Portanto, o calor liberado na hidratação é ainda mais lento, apresenta baixa permeabilidade e alta durabilidade. É utilizado para obras grandes, que possuem peças enormes, como barragens, estradas, tubos para transporte de líquidos agressivos, etc.
CP IV – O cimento pozolânico também possui muito mais pozolana do que seu irmão CP II-Z, sendo mais impermeável e durável, e muito utilizado em obras com ação de água corrente e ambientes agressivos. À longo prazo, o concreto com CP IV apresenta resistência maior do que o concreto feito com cimento comum.
CP V – ARI – O cimento ARI (alta resistência inicial) não possui aditivos. Porém, seu clínquer possui dosagem diferenciada. Esse tipo de cimento pode atingir até 26 MPa com 1 dia de cura! É indicado para obras que necessitam de desforma rápida.
E agora?!
Se e você leu as características de cada cimento e percebeu que não se encaixa em nenhuma situação específica, como as mencionadas acima, fique tranquilo, provávelmente o cimento indicado para você será CPI ou CPII (cimentos com características muito próximas ao CPI), esses são os cimentos mais comuns. No final do artigo traremos uma tabela com os usos indicados que vão ajudar a resolver suas dúvidas.
RESISTÊNCIA INDICADA
Após os algarismos romanos nos códigos podemos encontrar alguns números, que significam a resistência mínima à compressão após 28 dias de cura. Os cimentos mais comuns possuem resistências de 25, 32 e 40 MPa.
DICAS DE ESTOCAGEM DO CIMENTO
Ah, antes que a gente esqueça, a forma de armazenar o cimento é muito importante! Ela garante que este material de construção atenda os requisitos para os quais você vai usar. Imprima essas 5 dicas e passe para o seu almoxarife:
- Estocar em local seco, coberto e fechado, longe de tanques, torneiras e encanamentos (molhou, endureceu…);
- Usar pallets para evitar contato com o piso e facilitar o transporte;
- Não formar pilhas maiores do que 10 sacos. Excesso de compressão pode endurecer o cimento;
- Utilizar primeiro o cimento estocado há mais tempo. O cimento, bem estocado, é próprio para uso por três meses.
- Evite estocá-lo em temperaturas abaixo de 12°C antes do uso. A temperatura baixa pode ocasionar um retardamento do inicio de pega.
Mesmo com todos esses cuidados alguns sacos de cimento podem estragar. Às vezes, o empedramento é apenas superficial. Se esses sacos forem tombados sobre uma superfície dura e voltarem a se afofar, ou se for possível esfarelar os torrões com os dedos, o cimento desses sacos ainda serve para o uso normal.
Caso contrário, ainda é possível tentar aproveitar parte do cimento, peneirando-o numa peneira de malha de 5 mm, o pó que passar pode ser utilizado em aplicações de menor risco como pisos, contrapisos e calçadas, mas não deve ser utilizado em peças estruturais, já que sua resistência ficou comprometida.
Créditos
Engenheiro no Canteiro